sábado, dezembro 23, 2006

Nadas decompostos

Perdemo-nos na neblina de mais uma alvorada. Estava frio e as ruas eram mantos brancos. Tínhamos as mãos geladas e não conseguíamos pensar. Tu dizias que era da temperatura, eu tinha a certeza que era da emoção; mas havia de certeza qualquer coisa que nos arrepiava e entorpecia os membros.

Nunca quiseste acreditar e fizeste-me esquecer de tudo quanto um dia não fomos. Evaporam-se os sonhos e ainda me lembro quando contava os dias para o Natal... Tudo o resto pode desaparecer nas armadilhas da memória, mas isso há-de ficar. Um sorriso de verdade e a pureza (que agora me cái aos bocados como carne podre - e já nem sangro!)

Nunca foi completa, nunca o pôde ser, mas sempre foi demasiado ingénua. E cái a pureza, fica a ingenuidade nua e arranhada - agora, estupidez - que se transforma tão rapidamentes em algo um pouco (mais) cruel. Não é o ódio que borbulha nas entranhas já podres, mas um plácido sorriso de indiferença.

Perdemo-nos na neblina de mais uma alvorada. Porque nunca fomos de mãos dadas. Hábito de orgulho, se calhar era por isso que tínhamos sempre as mãos geladas... E por mais que decomponha todos os instantes, é difícil recordar-me de alguma coisa. Só de um sorriso, e sei bem que não era o meu. Mas lembro-me que contava os dias para o Natal e gostava de rondar a árvore para descobrir o que estava dentro dos embrulhos. Nunca cheguei a descobrir, nem aquele que tinha o papel rasgado na ponta. E um sorriso que não era o meu. Confundo os momentos, anos baralhados, mas disso tenho a certeza. Como tenho a certeza do teu sorriso, mas acho que já o disse...

E chegaram a falar-me de uma chama verde, verde de esperança, orgulhosamente acesa. E quis acreditar. A crença é a vontade. Mas todos esses pedacinhos de coisas nenhumas um dia hão-de juntar-se e fazer qualquer sentido. Por agora, ninguém disse que tinha de ter algum sentido, alguma razão de ser, razão de acontecer. Coicidências perfeitas. Acaso. Desiquilíbrio até à exaustão.

Mas tu sabes bem que existem tantos caminhos como linhas quebradas e que destino é uma palavra vazia. Mais uma ilusão. E só nos resta a esperança. Perdemo-nos na neblina de mais uma alvorada. Devíamos era aprender a sorrir com a alma.

Mesmo assim, ainda te peço que me ensines a dar as mãos.



quinta-feira, dezembro 07, 2006

Desarmoniosa sensação

Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.

- Como quereis o equilíbrio?
David Mourão-Ferreira


Carla Salgueiro, ...Then leave me to my enemied dreams
http://www.olhares.com




terça-feira, dezembro 05, 2006

Hipocrisia

Ela corre-te nas veias.
Não é o veneno que te destrói.
É o sangue que te faz viver.

sábado, novembro 18, 2006

quarta-feira, novembro 08, 2006

Trevos



E nem um era de quatro folhas.


sexta-feira, outubro 27, 2006

Os Fantasmas


Talvez não tenha sido mais do que um delírio. Uma fantasia da alma, engano do coração. Talvez tenha sido apenas o tempo a recuar aos anos em que dançávamos com os dedos. Ou se calhar o relógio parou naquele nosso momento. E não foi mais do que um relance.

Mas ficou provado. Os fantasmas existem. Tu ainda existe, igual a ti mesmo. Igual aos tempos em que brincávamos com flores na cabeça e tu me contavas estórias de aventuras que eu não podia perceber. Estiveste lá, a fotografia do passado e da melancolia. O espelho de mim mesma, as alegrias borradas, as paixões salpicadas e sempre a solidão em plano de fundo. A mancha que não se contem, que abafa todos os brilhos e todas as tentativas de fuga.

E reflectiste tudo o que eu não queria saber. Porque é que me contaste as lágrimas e os silêncios? As fugas e as hesitações? (Não podias apenas ter falado das gargalhadas e das conversas? Da vida e dos raios de Sol? Mas respondeste-me que espelhavas o real, não as minhas mentiras, que só te cabia a verdade e que os raios eram demasiado pequenos e efémeros, como sempre o foram. )

Talvez tenha sido apenas uma brisa. Uma janela que se abriu e o vento que sussurou mais alto. Nestes dias de temporal a chuva também tem a mania de nos falar baixinho. Talvez tenha sido ela, num lampejo de gozo, dançando na ferida aberta. Ou quem sabe uma ilusão, dessas que nos fazem rir e chorar ao mesmo tempo, uma fúria desesperada, tentando agarrar a minha alma, tentando arrancar-lhe a lucidez da razão.

Mas mesmo assim, eu teria jurado que tinha encontrado o teu olhar por um instante.


segunda-feira, outubro 16, 2006

A Outra Carta

(Ele)


Hoje lembrei-me de ti. Não que precisasse de qualquer facto específico, ou sequer de uma explicação para me lembrar, mas hoje houve uma razão e aconteceu qualquer coisa.

Era de noite e as ruas estavam cheias. Noites de Verão, cafés e um cheiro a festa no ar. Agitação e sempre uns copos a mais. Um dia como tantos outros e ainda não era muito tarde. E lá estavam eles os dois, a passear muito devagarinho. Era um casal, e já deviam ter os seus 70 e tal. Ela, agarrada a ele, baixa e curvada, num esforço a cada passo, mas sempre o mesmo sorriso. Ele, calvo e enrugado, tentando protegê-la e segurando-lhe o braço, como se pudesse travar a passagem do tempo. Tão unidos, na sua alegria passiva, caminhando para casa, gozando cada passeio, cada sorriso e cada palavra.

Seria amor o que os unia? Não sei. Talvez habituação, muita paciência e um pouco de carinho. Não será isso amor? Quem consegue desmenti-lo? (E se fosse o caso, talvez tivessem mesmo conseguido parar o tempo...)

Deslumbrei-me ao vê-los e não consegui deixar de pensar em nós. Teríamos conseguido sobreviver? Que seria da nossa paixão, da nossa loucura desmedida, dos risos e dos abraços, das nossas excentricidades ao 70 anos? Seriam paciência, habituação e simplesmente carinho? Seríamos amor?

Sonhei, um dia, que sim. Sim, eu cheguei a pensar em família, filhos e, até, em netos. O primeiro ia ser um rapaz, Gabriel, como o anjo, a rapariga Sara. Os outros nomes podias tu escolher (porque , sim, íamos ter uma verdadeira equipa de futebol). Oh, e nem me perguntes como fui imaginar isto tudo, mas recordei-me de tanta coisa quando vi aquele casal. Quis tanto que fosse o nosso futuro. Quis tanto que até doeu.

Não sei como fomos capazes de continuar, de nos ignorarmos, de sorrirmos placidamente. A ditadura das conveniências, dizem. Porque tudo se resume às aparências. Mas não consigo deixar de negar a aparência do brilho nos teus olhos, do riso branco e das frases suspiradas. Não podiam ser aparência, eram verdades. Eram o absoluto do real.

Realidade em bruto.

Dizem que os segredos mais escondidos são aqueles que nem nos atrevemos a contá-los a nós próprios. E é verdade. Todas as mentiras que eu contava, acreditava nelas, fazia parte delas. Mas, à medida que te escrevo esta carta surgem lapsos de feridas que saltam no caminho das minhas palavras, me estonteiam e me fazem descobrir o quanto falhei, mais do que a ti, a mim próprio. Os pensamentos que encontram o fio condutor, as mentiras que se desfazem e uma dor que me faz falta a crescer dentro de mim. E uma vontade cada vez maior de chorar (e foste a única por quem alguma vez chorei). E quantas vezes queria voltar atrás, tantos erros e segundos desperdiçados em que podia ter tentado mais uma vez. Mas a cobardia sempre esteve lá e tu sabias bem disso...

E quantas vidas, amores, dias e odores nos hão-de passar despercebidos? E amava-te, sim, em cada rumor dos teus passos e no mais efémero toque na tua pele. E até te confesso que aquelas canções lamechas (melodias repetidas, letras invertidas) me faziam sorrir estupidamente. Ritmos inquietos, alma acorrentada que, de qualquer forma, se conseguia espelhar numa voz nostálgica e longínqua (e sempre o acorde da guitarra a tocar mais fundo).


Oh.. e quem me dera descansar de cada vez que durmo.


Porque os sonhos que me atormentam avivam-se e retocam-se durante o dia. São os momentos de um Inverno perdido que se aperfeiçoam com o tempo, cada vez mais distantes, cada vez mais melosos. Aquele frio tão quente que nos percorria o corpo num arrepio de ternura culminando nas mãos dadas ou noutro abraço. Nos beijos mais longos e na sintonia de mais um olhar. Era tudo tão perfeito, na mais pura simplicidade e nem sabes o quanto me arrependo de não o ter percebido mais cedo. Porquê esta mania do tempo tornar todas as recordações mais simples e perfeitas? Maldita ilusão que só nos faz desejar o passado... Maldita dor que só me faz querer o teu presente!

E escrevo, escrevo, não consigo deixar de escrever. Escrever como despejar sentimentos porque chorar turva-nos a vista e a razão e escrever ilucida-nos. Chorar dói no rancor de recordar, escrever é pura melancolia. Chorar entorpece, enfraquece-nos, escrever faz-nos cada vez mais fortes. Mas nenhuma força, nenhuma vontade poderiam quebrar a mágoa de te ter deixado partir, a culpa de termos seguido caminhos separados.







(Oh, doía demasiado a possibilidade de não encontrar o teu olhar. Agora desfaço-me na incerteza de o ter podido encontrar.)



quinta-feira, outubro 12, 2006

Distância nas entrelinhas

A distância nas entrelinhas aumenta quando, a dois passos de tudo, somos sugados para mais longe de nós mesmos.

- Mas ainda não te percas hoje. Faz sol lá fora, e eles dizem que há muito mais para viver.

«Dizes-me até amanhã
Que tem de ser que te vais
Porque amanhã sabes bem
É sempre longe demais»

Acreditas?

«Have I run too far to get home?»

E a única coisa que me atrái é a mudança, só a mudança.

terça-feira, setembro 26, 2006

NovArte 2006


Descrição

Esta mostra, organizada pela associação Move-A-Mente, no âmbito das actividades jovens da Câmara Municipal do Seixal, pretende, acima de tudo, funcionar como um ponto de partida para os jovens artistas do concelho e não só, proporcionando-lhes um espaço de exposição e fundamentalmente um voto de confiança no seu talento. É, assim, importante salientar o seu carácter amador e autónomo.


• Os autores deverão enviar os seus trabalhos até 20/10/2006, em suporte digital (fotografias, digitalizações, ficheiros de texto?) para o seguinte endereço de e-mail, a fim de ser efectuado o processo de selecção: novarte2006@gmail.com .



Participa e mostra o teu talento!!!


terça-feira, setembro 19, 2006

Nova?


Ain't it something new?

Colocada: CPRI, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Avenidada de Berna

(Só desejava que isto mudasse para o mês que vem...)

sexta-feira, setembro 15, 2006

Cansaço

O tempo esfrega e raspa e corrói. Marca o rosto cheio de olheiras e os membros torpes. Arranha a pele e escorre pelos dedos até desaparecer. Vibra e sufoca a cada hora, minuto e no tic tac irritante de cada segundo. Corre até suar e deita-se no chão de cristal que a chuva lhe oferece. Gasta-se em palavras e perde-se a meio dos actos. Sente demais, esquece depressa. O tempo guarda o silêncio da verdade e sussurra-nos a cada rajada de vento. Cansa-se na vida, foge do mundo, ama-o, mas nunca desiste.

Deixem o tempo descansar.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Pingas de sonho

As pingas de sonho escorrem e espalham-se no imaginário.

Se eu as pudesse agarrar, sentir. Se eu as soubesse viver.

As pingas de sonho desvanecem-se e evaporam-se no quotidiano.

Se eu as conseguisse prender, mantê-las para sempre assim.

As pingas de sonho chovem, alagam e tornam-se demasiado pesadas.

Se eu as alcançasse mais simples, mais finas, mais perfeitas.

As pingas de sonho aproximam-se e afastam-se, baloiçando sempre.

Se eu soubesse dar-lhes a harmonia do real.

E elas fogem, voam.

Se eu as pudesse tornar minhas.


What if?

Salvador Dali, Relógios Derretidos

quarta-feira, agosto 16, 2006

Pretéritos imperfeitos

Partiste na brisa
De mais um início de Verão,
E eu nem tive tempo para me despedir.

Levaste as palavras rasgadas
Que um dia me prometeste.
Esqueceste, talvez, os instantes
De demasiados anos juntos
De demasiados prantos e risos
De demasiada vida amarrada.
Queimaste qualquer emoção
Toda a vontade, e todo o desejo
Na tua ânsia de fugires.
Lavaste-me a alma,
Mas deixaste-a molhada
(E sabes bem como eu morro de frio).

Desapareceste sem demora
Sem um último beijo meu
E nem soubeste o quanto me doeu.

*

quarta-feira, agosto 02, 2006

As Tuas Pinceladas

Pincelaste de caramelo os meus dias, tornaste cada sorriso mais leve, cada olhar com mais sentido. Pintaste tudo à tua maneira: longas pinceladas, traços carregados, cores vivas, tudo um pouco desfocado, bem ao jeito do amor. Escreveste frases de um poema a que chamaste nosso, tiraste fotografias do meu sorriso para guardares dentro de ti e cantaste ao ritmo da nossa paixão.

Que pincél era esse que eu nunca te via usar? E há pinturas que nos dão mais relevo, que nos ensinam a cada gesto e nos preparam para as cores finais. E há aquelas que estragam tudo. Destróem tudo o que estava escrito, borram a pintura, rasgam a tela e criam feridas que nenhumas imagens podem sobrepor.

Há manchas que nos marcam e escolhem, para sempre, a cor do nosso olhar. Que nos tocam tão fundo, que nenhuma camada consegue sobrepor. Gestos que se interiorizam, sorrisos tatuados, vozes imaculadas que nos dão o mundo (e fazem chorar). Cores e sombras que agarramos com toda a nossa alma e geometrias que nos são perfeitas.

Pinceladas que nos ensinam, outras que nos arrasam e aprendemos muito mais. Cores que nos fazem continuar e sorrir, outras que nos dóem para sermos felizes como nunca. Contornos que nos constroem e equilibram, outros que nos roubam a harmonia e nos fazem valer a pena.



(E ainda não percebi que raio de quadro me deixaste, mas as tuas impressões tornam-se cada vez mais nítidas.)

quinta-feira, julho 27, 2006

quarta-feira, julho 19, 2006



Quem me dera que fosses fumo.

Fazer com que partisses era só abrir a janela.




terça-feira, julho 18, 2006

As bombas de napalm

Fala do Velho do Restelo ao Astronauta

Aqui na terra a fome continua
A miséria e o luto
A miséria e o luto e outra vez a fome
Acendemos cigarros em fogos de napalm
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizémos de ti a prova da riqueza.
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez.
E pusémos em ti nem eu sei que desejos
De mais alto que nós, de melhor e mais puro.
No jornal soletramos de olhos tensos
Maravilhas do espaço e de vertigem.
Salgados oceanos que circundam
Ilhas mortas de sede onde não chove.
Mas a terra, astronauta, é boa mesa
(E as bombas de napalm são brinquedos)
Onde come brincando só a fome
Só a fome, astronauta, só a fome.
José Saramago


Guernica, Pablo Picasso

E quantas mais bombas? Quantos mais inocentes? Quantas vidas desperdiçadas?
Quantas crianças mortas, espalhadas pelo chão?
Até quando, a miséria, a fome?


(Para quando Velho do Restelo, para quando a tua apocalíptica profecia?)



domingo, julho 16, 2006

Em nome do Amor Puro

Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa não é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que eu quero fazer é o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Teixeira de Pascoaes meteu-se num navio para ir atrás de uma rapariga inglesa com quem nunca tinha falado. Estava apaixonado, foi parar a Liverpool. Quando finalmente conseguiu falar com ela, arrependeu-se. Quem é que hoje é capaz de se apaixonar assim?

Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.
Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato. Por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.


Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há. Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia,são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem,tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides,borra-botas, matadores do romance, romanticidas.

Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o medo, o desequilíbrio, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?


O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.

Amor é amor. É essa a beleza. É esse o perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A"vidinha" é uma convivência assassina.

O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente.

O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que
não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita. Não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar. O amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.

Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder, não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

Miguel Esteves Cardoso

Ouvi isto na Revolta dos Pastéis de Nata e até fiquei parva.
Adoro este texto,
mas já não o lia há muito tempo.

After a while

After a while you learn
The subtle difference between
Holding a hand and chaining a soul
And you learn that love doesn't mean leaning
And company doesn't always mean security.

And you begin to learn
That kisses aren't contracts
And presents aren't promises
And you begin to accept your defeats
With your head up and your eyes ahead
With the grace of a woman
Not the grief of a child

And you learn
To build all your roads on today
Because tomorrow's ground is
Too uncertain for plans
And futures have a way
Of falling down in mid flight

After a while you learn
That even sunshine burns if you get too much
So you plant your own garden
And decorate your own soul
Instead of waiting
For someone to bring you flowers

And you learn
That you really can endure
That you are really strong
And you really do have worth
And you learn and you learn
With every good bye you learn.

Veronica A. Shoffstall

sábado, julho 08, 2006

« Que me saiba perder... para me encontrar »

Florbela Espanca

quinta-feira, julho 06, 2006

Brain: Wa(t)ch

Cérebro dormente e sempre a mesma música de fundo. Suspiros de vazio, ódios de riso e aquele cheiro a falso. As telenovelas e a publicidade, cada vez mais criativamente nojenta. E os programas dos tais «especialistas em tudo» que criticam tudo e mais alguma coisa e têm soluções para tudo, respostas sempre debaixo da língua. Como é que não estão no governo?

E a democracia asmática, sufocada pelos gritos estridentes da intolerância e da hipocrisia que se enterlaçam no belo aparelho a cores. Que revolucionários xenófobos são estes? Que libertadores amedontrados? Que jornalistas parciais que lançam sempre o seu sorriso sarcástico, que reforçam sempre as «tais» palavras?

E novelas e mais novelas. Sempre as mesmas histórias, os mesmos filmes, que já nem vale a pena falar. O humor explosivo que acaba sempre por cansar. As meias verdades que precisam de ser ditas a bom tom, as mentiras encobertas, denunciadas e relativas. Em que é que se pode acreditar? As mesmas expressões em todo o lado que, de repente, entram na moda e ficam sempre bem dizer!

Sim, e o resto lá fora. Montra da realidade, vitrina suja, tudo o que parece ser. Porque nada é, tudo parece. A vida de frenesim, sem tempo para pensar. Será preciso? Agora, tudo nos é ditado pelo plasma panorâmico e afins. Não, não apenas as notícias, o que acontece fora dos nossos 100 metros de vida diária. Mais além. O que somos, o que pensamos, o que está certo e errado, o que devemos ser e condenar, o que usamos e os nossos belos supostos e pressupostos. (No outro dia, recebi a magnífica notícia de que a cannabis duplica as hipóteses de acidentes rodoviários, quando acompanhada de álcool. Olha, que novidade...! Porque não disseram antes que o álcool duplica as hipóteses de acidente quando já há neurónios a menos?)

E a alegria roubada, as ruas vazias, numa qualquer falta de ânimo ou vontade, iludida por um breve Mundial de entusiasmos desmedidos. E depois, o mesmo. O patriotismo forjado desaparece e, muito mais importante do que isso, evapora-se a alegria espontânea, o desejo incontrolado de celebrar a vida e viver, a empatia, o convívio. Para voltarmos aos nossos cubículos...

As cidades que já não são o que nunca foram, as aldeias tão transformadas, desertas e tão cheias de coisas alheias. A aldeia global e tudo cada vez mais perto, mas porque será que a maioria de nós nunca pôs os pés além da Espanha? Para já nem me estender para aqueles que - a cada s-e-g-u-n-d-o - morrem à fome em África ou na Índia...

E os direitos adquiridos que nos parecem arrancar a cada discurso - não só por cá! - em palavras que se perdem pela contenção e pelo défice. A união que parece não se fazer sentir, contradizendo os tão bem intencionados livros de História. Que história? His story? Quem, que se perdeu?

Mas, tudo envolto numa bolha espelhada. Sempre nos vimos apenas a nós próprios. Deformados e indiferentes.

domingo, julho 02, 2006

"Os loucos abrem os caminhos que depois emprestam aos sensatos."

Carlo Dossi

domingo, junho 18, 2006

That's life =D


Clicar para ver maior.

segunda-feira, junho 12, 2006

Qualquer coisa

Renasceste em mim
Num lampejo, sem pudor
Contaste os meus segredos
Incontido, em desatino.

Folheaste cada nervo
Acordaste cada sonho
Banhaste em ternura
A doçura do meu desejo.

E partiste, sem remorso
Deixando apenas flores
Na despedida mais esperada.

E são palavras, o que guardo:
Tudo aquilo que me ofereceste,
Tudo aquilo com que sonhei.

*

segunda-feira, maio 29, 2006

Já nem sei

E o que é que somos? No que é que nos tornámos?

Temos tudo. Tínhamos tudo. Tudo para alcançar o que é que quer que aspirássemos. Podíamos elevar-nos ao nosso paraíso, tínhamos Olimpo mesmo ali ao lado. Mas perdemos os sonhos, deixámos de querer, tornámo-nos isto. Não. Mudámos, apenas, os nossos desejos. Aspiramos, ainda, e tanto. Ao podre. Desfigurámos os valores, as ideias. (Mas que valores? O que é certo? Pode ser isto o certo? Não pode...não pode... Não pode ser isto a evolução. Que evolução? O que é evolução? Diz-me, o que é realmente certo? Isto...não pode!)

Sujámos tudo. Chapinhamos no lodo, os filhos da tecnologia. Filhos do progresso e com toda a informação (mas que evolução?) Ensinados pela História, treinados pela Matemática. A juventude prodígio: só esgoto e um cheiro a catástrofe no ar (catástrofe mental!)... Estagnação, estagnação. Regresão, regressão. A indiferença que se entranha no sangue e nos nervos e em cada orgão. E até nos bonitos fios de cabelo! A podridão intolerante que nos trespassa a cada olhar, os preconceitos tão inequivocamente postos de lado, que mancham as roupas a cheirar a suor (serão lágrimas? Mas, se tingires fica bem!)

Raios (banhos!) de hipocrisia, culpados, todos! (E ninguém...) Influências e modas. Ovelhas: também nos pensamentos e nas ideias e nos valores. E nos nossos felizes comportamentos. Cadáveres vivos que se arrastam e nem sentem (diz-me, o que é sentir?). Não, sentem. Tudo igual. Standard Emotion. Exércitos de poeira, apagada em menos de nada. Apatia. Ou empatia por outra coisa qualquer. E é qualquer coisa que não pode estar bem (bem?!), qualquer coisa ao contrário, que não bate certo (ou sou só eu?)

E não é nada...não somos nada. Encarnação da desilusão. Indícios de algum fim que teima em se atrasar. E onde ficou o desabafo que teimaste em não berrar? Nem sequer o suspiraste... Passado esquecido, futuro ignorado. Presente... gasto. Gasto de palavras imundas que teimamos em escrever. Mas para que é que escrevo?

E diz-me... o que é que vale realmente a pena?

Diz-me se vale realmente a pena...

(Porque eu nunca vali a pena.)


terça-feira, maio 23, 2006

«A História vai a reboque das ideias.
Amanhã veremos a História das ideias desta geração.»



Ficou-me na cabeça...

quarta-feira, maio 10, 2006

Mais nada.


O canto dos pássaros ao longe. O céu azul, o Sol forte. A brisa esperando o nosso apelo no nada. As cores difusas que se misturam, em desiquilíbrio constante, manchas perpétuas, agarradas ao nosso horizonte. Palavras queimadas na escuridão do quarto mais escondido. Ruídos frustrados, odores indefinidos que cortam o ar. Não.

O canto dos pássaros ao longe. Tão longe. A praia. A água salgada que purifica qualquer olhar menos pensado. A areia que se enlaça, foge e corre, dançando em palmeiras que sempre estiveram aí. A nogueira que nasceu no teu jardim. A sombra fresca, o refúgio de todos os amantes perdidos. Uma núvem tímida que se aproxima a medo. Vozes que nos fogem, que nunca conseguimos entender. E as molduras caladas, de sorrisos tão distantes, que nunca foram verdadeiros. E canções apagadas, perdidas. Não!

Hoje, só o canto dos pássaros ao longe. Só areais e céus azuis. Odores perfumados e mares imensos. (Tão grandes que eu me possa perder para sempre.) Uma menina de saia rodada amarela, rodopiando e rindo. Um pôr-do-sol mais quente e uma lua cheia. Nada mais.

(Porque hoje não posso pensar em mais nada. O que quer que fosse que pensasse, diria sempre demasiado.)

domingo, maio 07, 2006

Conversas

- E o que são sentimentos e emoções? Veias e nervos que se interligam e palpitam em harmonia inconstante. É tudo o que somos.

- Tens razão.

- Não, não tenho. Ninguém tem. Porque somos desatino, pensamentos que nos abalam. Somos memória e esquecimento. Somos o desejo do infinito e o desalento. Não posso ter razão. Razão não é nada, palavra oca que assombra o nosso sono sem alento. Somos os sonhos que não ousámos realizar e os pesadelos que concretizámos. Somos insónia e risos. As lágrimas da ironia. Somos a vida que não poderemos nunca entender. Somos os odores, as cores e os instantes perfeitos. Olhares de atrevimento e timidez recíproca. Somos o silêncio e as palavras. Somos o barulho que nunca conseguiremos abafar. A luz que ofusca sem brilhar. Somos páginas de vazio, rios de momentos perdidos. Temos a unidade e tudo o que nos separa. Protegemo-nos tanto para nos deixarmos magoar e dormimos em cima do remorso. Somos dor e sempre esperança, sempre desespero. Algodão doce, tão amargo, carrossel despedaçado, músicas de infância. Loucura, mudança, e sempre os mesmos. E não podemos ser nada, mas acabaremos em tudo.

- Somos a emoção fluída. Tens toda a razão, não tens razão nenhuma.

quinta-feira, abril 27, 2006

Ego Ísmo

E essas muralhas intransponíveis que nos separam da realidade, nos fazem viajar egoisticamente pela nossa mente, aclamando os nossos sentires e o nosso eu acima de tudo quanto vem além dessas muralhas? Ah, que só vemos aquilo que queremos realmente ver. Não conseguimos sentir além de nós próprios, estamos condenados à fortaleza do nosso corpo, prisão egocêntrica, o nosso limitado e pequeno mundo, que o pintamos tão largo, tão profundo, tão único, mesmo sabendo que existem tantos outros, tão iguais. E continuaremos assim, imperfeitos e limitados (oh Ser Humano!) enquanto não quebrarmos essa barreira tão alta e imponente que dita a nossa existência, troveja a nossa essência, que nos faz emergir acima de tudo e eleva os nossos pensares, tornando-nos, pois, cada vez mais pequenos, cada vez mais sós, cada vez mais distantes, arrebatados para aquele mundo que, orgulhosamente, o cantamos como único.
(Oh, egoísmo!)

terça-feira, abril 25, 2006

Lloret de Mar 2006

Falto lá eu... tava a tirar a foto xD

Como é que rolas?

sábado, abril 22, 2006

« - Uma boa influência é coisa que não existe, Mr. Gray. Toda a influência é imoral; imoral sob o ponto de vista científico.
- Porquê?
- Porque exercer a nossa influência sobre alguém é darmos a própria alma. Esse alguém deixa de pensar com os pensamentos que lhe são inerentes, ou de se inflamar com as suas próprias paixões. As virtudes não lhe são reais. Os seus pecados - se é que os pecados existem - são emprestados. Tal pessoa passa a ser o eco da música de outrem, o actor de um papel que não foi escrito para si. O objectivo da vida é o nosso desenvolvimento pessoal. Compreender perfeitamente a nossa natureza - é para isso que estamos cá neste mundo. Hoje as pessoas temem-se a si próprias. Esqueceram o mais nobre dos deveres: o dever que cada um tem para consigo mesmo. É certo que não deixam de ser caritativos. Dão de comer aos que têm fome e vestem os pobres. Mas as suas almas andam famintas e nuas. A coragem desapareceu da nossa raça. Ou talvez nunca a tivéssemos tido. O temor da sociedade, que é a base da moral, o temor de Deus, que é o segredo da religião - eis as duas coisas que nos governam. (...) Mas o mais ousado de todos nós teme-se a si mesmo. O selvagem mutilado que nós somos sobrevive tragicamente na auto-rejeição que frustra as nossas vidas. Somos punidos pelas nossas rejeições. Todo o impulso que esforçadamente asfixiamos fica a fermentar no nosso espírito, e envenena-nos. O corpo peca uma vez, e mais não precisa, pois a acção é um processo de purificação. E nada fica, a não ser a lembrança de um prazer, ou o luxo de um pesar. Ceder a uma tentação é a única maneira de nos libertarmos dela. Se lhe resistirmos, a alma enlanguesce, adoece com as saudades de tudo o que a si mesma proíbe, e de desejo por tudo o que as suas leis monstruosas converteram em monstruosidade e ilegalidade. Diz-se que as grandes realizações deste mundo ocorrem no cérebro. É também no cérebro, e só aí, que ocorrem os grandes erros do mundo. »

Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray

sexta-feira, março 31, 2006

quarta-feira, março 29, 2006

Qual é a diferença entre uma mente aberta e uma mente corrompida?

(E diz-me o que é conformidade e conformismo, liberdade e libertinagem...)

segunda-feira, março 20, 2006


Baile de Finalistas 2006

Escola João de Barros

terça-feira, março 07, 2006

Gestos que nos dóem

Há gestos que nos doem. Gestos que nos trazem uma nostalgia qualquer, a consciência de um desejo profundo, tão escondido, tão denso a cada segundo. Não são necessárias palavras, nem sequer olhares. O gesto basta, e já dói demasiado.

Quantas vezes nos consentimos iludir para podermos desviar para caminhos perdidos as nossas angústias? Doamos ao vento as tristezas que não nos podem pertencer, e esperamos, do mais fundo da nossa alma, que a brisa leve, também, os desejos pisados que guardamos a sete chaves. E cerramos os lábios com medo que nos fujam as palavras que sempre ansiámos confessar.

Mas há gestos que nos fazem lembrar de nós próprios. Que nos fazem lembrar, ainda, de quem já não somos, e não podemos voltar a ser. Que não nos deixam esquecer os sonhos incontidos que tentamos desfazer em pétalas secas. Calcam na ferida e deitam por terra qualquer lampejo de força, fazem-nos pensar naquilo que já tínhamos desistido, e, contra a nossa vontade, reacendem o fogo verde da esperança desmedida (que acaba sempre por queimar...). Gestos que anseio, que temo.

E sabe-se o que se segue. Um toque tão leve e profundo, um raio de sol num cravo vermelho e lágrimas, num ritual de libertação e acorrentamento que se há-de repetir infinitamente até que tudo seque e não reste mais nada. O alívio do esquecimento, do longínquo e o desfocar do pensamento. Mais nada. Mas, até lá, a chuva há-de cair cem mil vezes, e, por isso, há gestos que doem.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Já reparaste?

Não somos os mesmos, mas continuamos a ser os mesmos.
Bem, respondendo ao desafio, vou aqui enumerar as minhas cinco manias... :P


- Faço caretas sem me aperceber. Epá, se calhar é mais um tique, mas não intressa. Às vezes quando tou sozinha começo a fazer caretas sem sequer notar, depois chega alguém e pergunta «Di? Qué isso?» ou então ficam simplesmente com cara de parvos a olhar, à espera que eu repare. Eu diria: medo.


- Faço barquinhos em tudo o que seja maleável. Papel, plástico, cartão. Qualquer coisa que apanhe e seja minimamente rectangular começo a fazer barquinhos: são os papéis dos rebuçados, guardanapos do McDonald's, restos de folhas, tudo!


- Bem, quanto às manias com roupa, não posso dormir de meias: é impossível. Faça o frio que fizer, que neve, não importa. Temperatura negativa? Quero lá saber! Eu simplesmente não posso dormir de meias. =X Ah..e depois há aquela coisa que mal chego a casa dispo-me logo pra vestir o pijama... É que não consigo estar em casa com a roupa do dia-a-dia! Seja Inverno ou Verão... não dá!


- Vou seleccionando tudo enquanto vou lendo no pc. Essa é sempre. Até me parece que nem consigo perceber o que tou a ler se não tiver a selecionar. Sejam blogs, páginas da internet, textos word... qualquer coisa (menos msn...) tenho sempre que ir seleccionando!


- Não posso ter relógios mecânicos! É paranóia mesmo, mas não posso! Sejam de pulso, ou despertador... Não dá! Os de pulso não consigo usá-los mais que um dia... porque até me fazem confusão durante o dia... eu estou sempre a ouvi-los! Então no quarto... Já parti relógios de cabeceira porque não aguentava o tic tac! E nem os de pulso podem ficar em cima da secretária porque não consigo dormir e tenho que me levantar, depois de andar horas a remoer, pra ir enfiá-lo dentro de uma meia, dentro duma gaveta (porque a gaveta só não basta!) ou então vou pô-lo na sala, ou na entrada, ou noutro sítio qualquer longe do meu quarto... Eu oiço tudo!


(Ok..estes lembrei-me agora e basta.. se se lembrarem de mais algum não se acanhem! =X )


*

sábado, fevereiro 11, 2006

Sentir

Acordes perfeitos. Músicas que o tempo levou. Violas perdidas. Sons rasgados. Ruídos fluidos.

Consegues distinguir? Consegues sentir?


Inércia, indiferença, apatia. Quando te esforças por tocar no ar quente, quando tentas sentir todos os aromas, todas as cores, todos os sons. Queres correr, sentir o vento percorrer o teu corpo, mas não consegues sair do mesmo sítio. Os nadas que te prendem, ou o nada que não te consegue prender. Emoções falhadas, abismos de coisa nenhuma, vapores que dançam à tua volta, mudos, no seu mundo perfeito. Apatia de sentimentos, almas que rodopiam e caem no mesmo círculo, sempre felizes. Pétalas caídas, sem aroma, luas de amor, luzes e fascinação. Vida.


E tudo sem sentido nenhum. Viver. Sentir.


Encurralada, talvez, numa dessas grutas onde costumavas guardar as memórias longínquas de tudo quanto te fazia sorrir. Sim, aquela coroa de flores. E...e, que mais? Risos efémeros que passaram, memórias de algum não sentimento de hoje. Tentativas desesperadas de seres outra alma, de fazer tudo de maneira diferente, de sentir de outra maneira. Convicções de que eras, de que chegaste a ser. Mentiras em que acreditas, que não consegues mudar aquilo que és. Melodias que nasceram contigo, cores que sempre foram as tuas. E vidas separadas, mudanças repentinas que te embarcam as entrelinhas das palavras. Arrepios de emoções (só arrepios) que te percorrem o corpo, fogem por entre os dedos e se dissipam no calor que faz lá fora. Pequenos instantes que morrem no tempo, na lembrança ferida que trazes contigo. Acordes perfeitos, demasiado breves, que voam ao vento, numa tentativa falhada de se tornarem eternos.



(Mas eu tentei. Eu tentei tanto.)

sexta-feira, fevereiro 03, 2006


What have we found? The same old fears.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Trocar de Olhares

Vi-te passar, apressado, sempre sem tempo para algum momento de felicidade nessa tua vida de frenesim. Correste, desapareceste. E que foi feito dos momentos em câmera lenta com alguma música bem lenta de fundo? Ilusões, ilusões...

Mas e o trocar de olhares? Por um instante, voas mais alto, entras dentro da alma, conheces cada recanto, procurando cada alegria passageira, cada ferida, cada cicatriz. Sabes sequer o meu nome? Não, não sabes. Nem nunca vais saber. Já passaste e o instante perfeito desvaneceu-se, perdido, levado para longe por alguma brisa que se levantou quando abriste a porta e saíste, com tanta pressa quanto entraste. Segundos perfeitos e conseguiste ler tudo o que eu tinha a dizer...

Mais vale assim.

Mais vale não saberes sequer o meu nome. Porque o resto é mentira. São palavras sem nexo, gestos embaraçados e pensamentos reais. Assim é melhor. O sentimento, a verdade, nenhuma palavra que consiga estragar o instante. Ilusão na sua forma mais fluida, no seu gesto menos dorido.

Porque me conheceste, e se chegasses a saber o meu nome, nunca me chegarias a conhecer por completo. Deixarias de ler nos meus olhos, e passarias a ouvir o que digo, a reparar nos meus gestos. E seriam tudo mentiras. Porque eu não iria ser eu. Seria eu mais tu. O meu eu acostumado ao teu, calcado no real, transformado, perdida a essência.

Deixa estar assim.


Foi um olhar, um instante perfeito que se há-de prolongar para além do tempo, longe do real, de qualquer coisa que possa provocar a desilusão, a dor. E fomos completos, pois. Eu conheci-te totalmente e tu a mim.

Porque conhecer-te é perder-te, que não posso conhecer mais que um reflexo de ser.

Porque conhecer-se é nada conhecer, e tudo sentir.

Percebes?

(Mas não quero que percebas. Sente só. E tudo fica mais belo.)

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Voltar

Arrependimento.

Recordações salpicadas de vermelho, a dor de lembrar, de não poder esquecer. O sentir do pulsar das veias. Dormente.

(Põe a música mais alta, talvez ajude.)

Não. Há outra voz que grita. Pensares que aparecem como flashes. O nervoso e o tremer. O olhar baixo, uns suores ainda. O abanar de cabeça. Porque é que estas imagens não saltam para o esquecimento?
E o som não anestesia. Puxar de cabelos. Arranhar de peles. Sofocos de vozes. Choros contidos.

(Mas, o quê?)

Remorsos. Vidas passadas, vidas futuras, recordações que palpitam, sem nexo sequer. Um nó qualquer na garganta, voltas ao estomago e tudo desde o princípio. Segundos que pesam anos, loucuras da mente, que teima em perder-se por esses lugares desconhecidos.
Arrependimento. O querer voltar atrás. Fazer tudo de novo. Sentir como se fosse a primeira vez. (Porque esta primavera é sempre a mesma e cansa). Olhar tudo como na infância (e ser criança). Sorrir como quem é feliz, chorar como quem desabafa. Retroceder para além de tudo o que já vi. Ser outra qualquer. Remorsos.

(E porquê? Que fizeste tu para te arrependeres tanto?)





Nada.


(E foi mais um daqueles silêncios que nunca nenhuma palavra poderá explicar.)

sábado, janeiro 14, 2006

Eu não acredito em nada, mas, ao menos, sei que isso é real.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

A Ti

(Ela)

Lembras-te quando passeávamos juntos à beira mar? Seguidos de mais algumas dezenas de casais abraçados, outras dezenas vindo na nossa direcção. Lembras-te? Éramos apenas mais uns jovens apaixonados no meio da multidão, tentando parecer únicos no nosso amor, de alguma forma especiais, como se aquele amor nunca fosse acabar e se prolongasse para além da nossa morte. E caminhávamos sem destino, ríamos e brincávamos na nossa infância do amor, sem pensar em mais nada.

Será que ainda te lembras? Chegaste a acreditar quando te disse que te amava? Era verdade. Era tudo verdade, sabes? Não, não menti. Não sei se chegaste a perceber o que te dizia. Nem sei sequer se queria que o percebesses, mas vou tentar dizer-to por palavras escritas, já que dizê-las é muito mais difícil.

Às vezes uma rapariga tem medo. Não sei se alguma vez chegaste a sentir o mesmo, talvez nunca chegaste a gostar de mim o suficiente para o sentir. Mas eu tinha medo. Tanto medo. Eu amava-te e, às vezes, não sabia como o demonstrar, não sabia sequer se o queria demonstrar (na verdade, na altura acho que nem tinha uma ideia clara do que sentia porque, afinal, só damos pela falta das coisas quando é tarde demais, não é?). Mas eu tinha medo. De te perder, de não fazer as coisas certas, de que não gostasses de mim realmente. Eu sei, fui parva. Como pude não ver o brilho que ostentavas quando me vias descer a tua rua naquelas tardes frias de Janeiro? Como pude pensar que era falso o sorriso que emanavas quando íamos, bem devagarinho, para o parque desviando-nos daquelas poças claras, esbatidas pelo Sol? Pois, sabes como eu sou. Nunca fui lá muito segura, e sempre casmurra, a teimar que talvez fosse tudo uma ilusão, tremendo só de pensar na possibilidade de me largares da mão e me deixares ir, assim, sozinha para o parque.

E estraguei tudo. Não corri. Não te agarrei. Não gritei. Não chorei até que a minha alma pudesse escoar-se para alguma dessas poças onde costumavamos espelhar a nossa felicidade. Não. Eu não fiz nada e tu pudeste ir, sem sequer olhar para trás.

Será que não viste, também? Não sentiste como a minha mão tremia, quando a tua se aproximava para a tocar levemente? Não viste? A minha felicidade tão simples quando me ofereceste aquela flor que tinhas arrancado do parque? Ainda lá está, no meio daquele livro que nunca cheguei a acabar de ler. (Também não deixavas, pois não?) E, depois, desmanchaste um botão em flor, espalhaste as pétalas pela brisa que trazia a essência saudosa do mar (eram, talvez, restos de asas de algum anjo que voou alto de mais, perdendo-se no âmago do sonho). Mesmo aí, não viste como era completa quando te comtemplava? Pegavas-me na mão, levavas-me pela alma, e corríamos, rindo, na demência mais feliz dos loucos, por entre as árvores que nos acolhiam. E deitávamo-nos na relva, sonhando com o Sol de Verão, maldizendo tudo o que se relacionasse com aquele Janeiro gelado (quantas vezes não fiquei eu cheia de água de orvalho, que nunca chegava a secar no chão?). E as frieiras, as camisolas de lã, os cascóis que se perdiam sempre, os chapéus-de-chuva que eu nunca usava, as molhas e os risos, as manhãs e o sono, as constipações, o cieiro. Mas tudo fluia na mais perfeita harmonia, aqueles eram os nossos dias e nada os poderia ter tornado melhores. Éramos nós. Se não fosse aquela molha no caminho para casa, como poderíamos ter criado aquelas fantásticas teorias sobre a perspectiva nas gotas de água e os reflexos do ser humano? Não viste que eras tudo? Não viste que eras mesmo a outra metade? Talvez se eu te tivesse dado um daqueles ursos foleiros com um coração a dizer «Preciso de Ti» me tivesses achado mais credível. Mas, que parva, pensei que aqueles momentos valessem por uns 1000 ursos...

Já te lembras?

E será que me consegues perdoar? Assim, só um bocadinho. Perdoar-me por tudo o que fiz, pelo que não fiz e por tudo o resto? Podemos começar tudo de novo. Eu explico-te outra vez como sou complicada, insegura e teimosa e tu ensinas-me outra vez a respirar ok? Porque te amo. Sim, a sério. Podes usar a carta como prova e tudo. E se eu disser que não a escrevi, não ligues. Sabes como sou orgulhosa e como me arrependo facilmente (até daquilo que nunca me deveria arrepender...) Perdoas? Perdoa-me, por favor, porque eu já te perdoei há muito tempo.

(E até esqueço o dia em que te foste embora,
sem sequer olhar uma única vez para trás.)