sexta-feira, dezembro 21, 2007


Às vezes fico triste.



segunda-feira, dezembro 17, 2007

Vontade


Na penumbra dos meus gestos hás-de sobreviver. Nunca mais.


quinta-feira, dezembro 13, 2007

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Dói-me o peito.

Dói-me o peito. Dói-me o peito na tua ausência. Dói-me o peito no simulacro da tua presença. Porque só existes no sorriso estático; o teu olhar fixa-me sem hesitação na imagem do ecrã. E dói.

O vento são lâminas que te cortam a respiração, refugias-te na lã do casaco e das luvas pretas. A neblina percorre-te o corpo e as possibilidades são demasiadas, ilimitadas; uma esquina, uma loja, um banco, um olhar. Quantos metros até ao descanso? Exaustão de formas, exaustão de procuras, olhos cansados. Fadiga. Excesso. Pleonasmo. Círculos imperfeitos na sua origem, quantas demandas, quantos pedidos? Palavras perdidas no horizonte. Será que chegam ao teu? Quantos metros até ti? Quantos passos e quantas esquinas? Perco-te em mais um dia de quase vida. Quantos quase cruzares? Quantos quase encontros? Chove em mim e não sinto a água que escorre dos carros, dos prédios e das árvores. Chove em mim e não sinto sequer o espirro que me foge. Chove em mim e esqueço-me de te procurar. Perco-me.


Golconde, René Magritte




terça-feira, dezembro 11, 2007

A família

«Há qualquer coisa de errado na família. A família não funciona. Sei que, como conservador, deveria defender a família. Mas não consigo. A família é indefensável. É um equívoco. É um efeito de economia. A família está a dar cabo das pessoas. E das famílias.

Porque é que as pessoas, só por serem consanguíneas umas das outras, hão-de viver juntas?
As crianças haviam de ser separadas dos pais desde a mais tenra idade. Os próprios pais haviam de ser separados um do outro desde a mínima ternura. Só assim é que o amor poderia crescer e a família continuar.

Há algo de promíscuo na maneira como as famílias vivem. As pessoas vivem umas em cima das outras. São obrigadas a ver o mesmo canal de televisão, a comer o mesmo arroz de polvo, a ouvir as mesmas discussões, a ver os mesmos roupões e até a cheirar o mesmo chulé dos mesmos chinelos anos 40 do avô.

É pouco saudável. Não admira que toda a gente queira bater a asa à primeira oportunidade. À ganância. Para cair noutro ninho, com outro marido e outros filhinhos, mas ainda pior. É por estas e por outras que as famílias se separam cada vez mais - porque não podem viver juntas.

Tenho para mim que o homem, como a mulher, não nasceu para viver em grupo. Uma casa de banho, por exemplo, jamais se deveria partilhar. Não dá jeito. É embaraçoso. Faz prisão de ventre. Defecar é um direito básico, a cujas sequelas atmosféricas ninguém deveria estar sujeito. Sobretudo em casas de banho interiores.

Se se quer conservar a família, é preciso mantê-la afastada. Mesmo contra a vontade. A separação cria saudade. A distância facilita o respeito. Marido e mulher deveriam ser obrigados a convidar-se diariamente para jantar. As refeições obrigatórias sabem sempre mal. O convívio forçado à mesa - "Passa a hortaliça, não tires macacos do nariz" - não é uma prova de amor, é um refeitório de penitenciários.

A partir dos 6 ou 7 anos, as crianças necessitam de uma casinha própria, onde o acesso de adultos esteja vedado, excepto em casos de incêndio, varíola, consumo comprovado de vodka, et caetera. Em suma, as crianças precisam de um apartamento separado, onde se possa escrever nas paredes, fazer barulho, torturar animais de estimação, disparar pressões de ar e tudo o mais. A família ideal é um complexo habitacional com, três chaves. Digamos um 2.º andar Esquerdo, Frente e Direito. No Esquerdo mora a Mãe. No Frente moram os filhos e a criada. No Direito mora o Pai. Para efeitos, de controlo, todos têm a chave uns dos outros, mas só para casos de emergência, porque são todos obrigados a tocar à campainha antes de entrar. Excepto, em casos urgentes de carência de carinho ("Ó Pai, está uma bruxa atrás das cortinas") ou de.ciúme ("Maria José, Maria José -com quem é que estás a falar?")

Cada apartamento pode ter, apenas uma assoalhada. Mais vale viver em três T1’s separados na Reboleira do que tudo a monte numa enorme casa de família no Estoril. As pessoas precisam de estar sozinhas, de curtirem e curarem as suas neuras na maior privacidade, de ouvir as músicas de que gostam sem chatear os outros, de se escaparem, de se fazerem caras e rogadas, de receber as pessoas de quem mais ninguém na família gosta.

Só separada é que a família pode sobreviver. Contígua mas não comunitária. Adjacente mas não a jazente. Se um casal for impelido, por razões habitacionais, a tocar à porta, a levar flores, a convidar para jantar, a fazer a corte para poderem dormir os dois juntos, o amor pode durar muitíssimo mais. Uma família que tenha três moradas é feliz. Pode escrever cartas, pode trocar postais.

O horror da família é a proximidade. É horrível quando os pais ouvem os filhos a fazer concursos de puns, quando os filhos ouvem os pais a gemer e o colchão a guinchar, os gritos de "Não! Não! Sim !" e depois o inevitável chapinhar do bidé. É indecente quando a mulher é obrigada a dormir ao lado de quem quis ainda há pouco esfaquear e que ainda por cima está a ressonar que nem um porco. Cada qual com a sua banda sonora - eis o lema familiar do futuro. O hino quotidiano das famílias portuguesas, que consiste na audição comunitária do barulho do autoclismo não é, nem nunca será, um cimento de solidariedade. Para uma família ser feliz, é necessário haver sedução. Os filhos têm de ser charmosos para encantar os pais, os pais têm de se esforçar para educarem convincentemente os filhos. E marido e mulher, caso queiram permanecer juntos, têm de passar a vida inteira a engatar-se. O mal da família é a facilidade. É pensar que aquele amor já é um assunto arrumado.

O segredo é conviver em vez de coabitar. A família feliz constitui-se por vizinhos apaixonados, por condóminos de sangue, por um poligrupo sentimental. As pessoas só estão juntas quando querem estar. Só partilham o que querem partilhar. Passam a vida a entreconvidar-se. Os pais aliciam o filho: "Ouve lá - se nós te comprarmos uma Harley Davidson, não queres vir até ao Jardim Zoológico connosco?" Os filhos dão a volta aos progenitores: "Ó Pai, o vídeo está avariado, conta-nos uma história." O marido alicia a mulher: "Vá lá, Maria José - fica comigo hoje à noite. Tenho caviar e champagne no frigorífico, comprei o compacto do primeiro LP dos Smiths e a empregada mudou hoje os lençóis... e juro que amanhã de manhã eu também me levanto cedo e vou contigo ao oftalmologista..."

Uma família que é obrigada a convencer-se, a seduzir-se, a respeitar-se mutuamente é uma família que pode durar para sempre. Família maçada acaba despedaçada. O mal da família é um problema de má-criação e de falta de respeito. Os familiares mostram-se incapazes de viver com civilidade, gritam, insultam-se, abusam do seu poder.

Se um miúdo, quando leva um estalo, puder fechar-se uma semana no seu apartamento a ouvir heavy metal a altos berros; se uma mulher, quando o marido a chatear, puder puxar da agenda de solteira e passar a resto do dia a fazer telefonemas a ex-namorados; se um marido, maltratado pela mulher, tiver uma sala onde possa receber os amigos, para jogar à lerpa, beber água-pé e visionar videocassetes da Cicciolina, o conflito desagudiza-se naturalmente.

É uma questão puramente arquitectónica. Mais tarde ou mais cedo, como é regra do amor, as saudades superam os ressentimentos e as campainhas recomeçam a tinir, e os "desculpa lá" recomeçam a ressoar. As pazes fazem-se de livre vontade. Os beijinhos dão-se de bom grado. A família reúne-se, no verdadeiro sentido da palavra. E reina a concórdia.

Na versão actual, exceptuando as famílias que vivem em grandes mansões com tantas alas e governantas que os membros só se vêem a hora de jantar, a família portuguesa é um convite à promiscuidade. Os pais reprimem os filhos, querem sempre ver o canal errado, insistem em comer carapaus grelhados, obcecam-se com a conta da luz, não adormecem até chegarem as crianças e por isso dormem pouco e por isso contraem doenças nervosas e por isso culpam os filhos. Os filhos, por sua vez, são indiferentes ao amor dos pais, ingratos, insolentes, intratáveis, gastadores inveterados e, ainda por cima, profundamente infelizes.

Nas situações mais extremas de proximidade familiar, ou seja nas barracas, os homens batem nas mulheres e acordam as crianças, os avós atam-se aos vãos das portas, os pais violam as filhas, os irmãos disparam caçadeiras contra os pais, os cunhados telefonam para O Crime. E tudo durante a novela, enquanto o cheiro dos rissóis se vai entranhando no terilene dos lençóis. A família é uma instituição demasiado preciosa para se deixar destruir pela coabitação obrigatória, pela prepotência paterna e pela falta quase absoluta de privacidade. O amor é demasiado raro e difícil para se estar a esbanjar na rotina quotidiana do concubinato. É preciso salvar a família da excessiva familiaridade. A familiaridade, dizem os ingleses, gera o desprezo. O desprezo é fatal. A ansiedade dos filhos por abandonar a tirania do lar paterno é tão grande que os atira para a miséria de constituir novas famílias em quase tudo semelhantes àquela que deixaram. É um círculo vicioso.

É um vício circular. Numa concepção anarco-conservadora, que visasse proteger a liberdade dos familiares com vista à perpetuação da família, a felicidade seria uma função simples de poder pagar três rendas de casa. Ou de transformar cada assoalhada num apartamento, ou de desdobrar cada T3 em 3 T1's cada um com a sua muralha; nem que fosse de contraplacado, cada um com a sua chave. Em última análise, quando não houvesse dinheiro para isso, seria preferível misturar famílias, trocando camas de casa para casa, de modo a separar os casais e os respectivos filhos, num regime de holiday home.

A família é uma instituição que corre perigo. Com razão. É uma instituição insuportável. É uma mini-Mafia, com abraços e facadas, lágrimas e jantaradas, com a desvantagem de ser não-lucrativa. É uma pandilha permanentemente com os azeites e os óleos de Fula. É um pandemónio fascistóide. É uma Cosa Nostra que preferíamos que fosse Dotra pessoa qualquer.

É preciso avançar para a família do futuro: para as cooperativas sanguíneas, onde cada um tivesse o seu cantinho, onde as crianças se considerassem adultas aos 12 anos, os adultos recuperassem a irresponsabilidade da adolescência aos 35 anos e ninguém estivesse com ninguém sem que lhe apetecesse estar. É preciso reinventar a família como uma comunidade multi-etária de compinchas livres e respeitadores. De modo a mais ninguém poder sujeitar os parentes encarcerados à sua opinião sobre a recandidatura de Mário Soares, ou descascar uma só laranja em frente do televisor, ou despir uma só peúga que fosse, ou cortar as unhas dos pés na presença de menores, ou dar impunemente, em plena sala de estar, no seio da família, um único e preguiçoso pum. E, em vez de pedir desculpa, sorrir e pedir que alguém lhe passe a TV Guia.»

Miguel Esteves Cardoso

segunda-feira, dezembro 10, 2007

A pele arde-me a cada instante.

A pele arde-me a cada instante. A pele sente a memória, as imagens do passado que te mordem as pernas, e os braços, e a barriga. E os nós dos dedos. E cada poro dilatado pelo vapor que sai da água a escaldar da banheira.

Sempre gostei da água a escaldar. Mesmo que deixe manchas vermelhas na pele. E pouco tempo depois, as pontas dos dedos enrugadas. E a pele ainda a arder.

(Não só as imagens. Incendeiam-me demasiado as vozes e os cheiros. A tua voz. O teu cheiro.)

Arrepio de olhar. O vislumbre. A troca de olhares tem o peso de montanhas. Instantes demasiado brutais, uma força que me esmaga as entranhas. Consomes-me.

É tudo por hoje. (Foi tudo durante demasiado tempo.)

quarta-feira, outubro 31, 2007

Let's pretend!




Of Montreal - Wraith Pinned to the Mist

www.radiozero.pt , já agora.


terça-feira, outubro 16, 2007

Gotan Project - Santa Maria




Às vezes não há nada a dizer.


segunda-feira, setembro 03, 2007

Verdades diversas

As verdades diversas que pesam dentro de ti. As emoções contraditórias que estalam nos ouvidos, ora lúcidas, ora embriagadas na dor, na exaustão e no próprio delírio - querer esquartejar o peito na esperança que tudo fique definitivo, que a dor se estabilize nas paredes do corpo.

E os teus espasmos psicológicos são claustrofobia (medo de te fechares dentro de ti própria) - a solidão palpita no trilho que escolhes e agarras-te à efemeridade dos teus momentos. Mas isolas-te por escolha, teimosa e orgulhosa, numa redoma que fazes questão de construir. Como te sei e como te compreendo.

Calcas a ferida e sabes como é insustentável o teu mundo platónico, a disparidade dos teus sonhos e do teu ser. Não ousas ser o que sonhas, escorrem-te as oportunidades das mãos e o ímpeto fecha-se no pensamento.

Talvez saibas que a sorte não está do teu lado, embora te esqueças que essa necessita de ser alimentada, que as tentativas não são em vão, que elas te agarram e libertam. Seguir em frente não é uma opção, impõe-se; no entanto, continuas a preferir viver de ilusões precárias, de vislumbres e sorrisos - são as tuas verdades múltiplas, o teu pequeno mundo de faz de conta.

As incertezas apunhalam-te, em pequenas convulsões; contudo, a tua morte é lenta. Escolherias a certeza definitiva, mas falta-te a coragem para a arrancares - it's better to burn out than to fade away - doeria menos.

E continuas a preferir não pensar. És quase feliz quando fechas os olhos e constróis a tua ilusão. Sofres mais, mas é mais fácil. Ser forte costuma custar mais e a tua cobardia alastra-se como cancro (será possível o cancro da alma?). Deitas-te nos teus lençóis de mentira (diversidade de verdade, que eufemismo!) e é quase perfeito. Tudo quase perfeito.


Boa noite.


quarta-feira, agosto 15, 2007

You should never be afraid

«And I've had recurring nightmares
That I was loved for who I am
And missed the opportunity
To be a better man»

Muse, Hoodoo

Wraygunn



















Ao minuto mais infernal do Sudoeste.

E este Paulo Furtado é um senhor.



quinta-feira, junho 28, 2007

8 de Junho



«I changed by not changing at all»

quarta-feira, junho 20, 2007

Palavras


«Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.»

Alexandre O'Neill

- Mariza -

(Em "Transparente")


domingo, abril 08, 2007

Sem Nenhum Título

Temos sempre a mania de temer o que desconhecemos.

Não temas a vida. Não tentes amordaçar as veias que sentes pulsar. Não adianta que te escondas, nunca ouviste falar em destino? Os cépticos chamam-lhe coincidências. (Que estranho. Eu chamo-lhe coincidências.)

Basta um passo em frente, e podes ganhar o teu mundo. Podes merecê-lo. Podes senti-lo, como algo indubitável. Podes cair e nunca mais te levantares.

Mas a chama extingue-se e perco a vontade. Acampamento de mim mesma, estendal de sofismas enredados. Escorrem os sonhos e os versos, caídos a meio caminho do Éden. Agrafadas as promessas por cumprir, calcadas as palavras e borradas de repetição e lágrimas. Páginas de não sentimentos, de orquídias por colher, de colares de contas, de acordes improvisados e decorados, de beijos e fotografias, de saudades e euforia, de cobertores de ternura, de chapéus de Sol e liberdade.

Faltam-te os goles largos do perigo, das fronteiras longínquas onde se desenha o sonho. Porque só no horizonte podemos concretizar o desejo. Ele reconstrói-se e dissimula-se, como a linha que vemos. Falta-te o brilho da insanidade, o impulso. Algo que te imobilize e te faça correr atrás.

Falta-me ele.

terça-feira, março 27, 2007

Se me abraçares, não partas.

«Se partires, não me abraces - a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.

Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces -

o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém - longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.

Se me abraçares, não partas. »

Maria do Rosário Pedreira, O Canto do Vento nos Ciprestes

Tinha saudades deste poema.

domingo, março 11, 2007

Vai, que o mundo já não é teu

O corpo torpe, a cabeça pesada. Os membros cansados, os olhos a quererem fechar. E ainda não dormi nada. Parecem-me anos, todo o tempo que aqui passei, enclausurada dentro de ti. Os raios de Sol já rasgam o quarto, os olhos ardem de sono e de vergonha.

Pisaste-me os nervos e nem quis acreditar quando fechaste a porta. A tua mania de bateres sempre com a porta, de quereres sempre que a tua partida seja notada, sofrida, ruidosa. Será que ainda não descobriste que já não me consegues tocar, que os teus gritos são meros suspiros que se perdem a meio da vontade? E a tua essência perdeu-se em mim, um odor indiferente, uma voz sem timbre, sem agudos nem graves, palavras sem sentido, sem sentir, palavras como ruído que não me consegue trespassar.

Lava-me a alma. Ainda cheiro a noite e a água não consegue arrancar de mim o cansaço ou a dor. Despoja-me de culpa, arranca-me a indiferença, as vestes que sempre me cobriram. Proteger não é abafar. Acolher não é esconder, disfarçar.

E vai, que o mundo já não é teu. Já não há nada aqui que possas magoar ou prender. Amparar ou esconder. Podes bater com a porta, ou deixar a janela aberta. Sei que ainda te lembras de como tenho sempre frio e medo dos fantasmas, mas já não me importo. É hora de me mostrar forte por outro caminho, que este cheira a podre e não há nada que me possa salvar. Salva-te a ti mesma, dirias tu. Mas na impossibilidade de fugir, sei-me perdida em algo que nunca foi meu, aspiração ilusória de ser, de querer sentir. A simbiose inalienável de sentir e sofrer. Existência e dor. O pedaço que me falta. Envolver-me e partilhar.

Mas podes partir, que este já não é o teu mundo. Encontra algum que possas trespassar, que possas voltar a ferir. Um que possas salvar, mesmo que nunca o faças.

terça-feira, março 06, 2007

Dar-nos é envolver-nos.
Dar-nos é a única maneira de viver.
Partilhar é sentir.
Partilhar implica mais do que uma parte.

E só agora é que isso me veio à cabeça.

domingo, fevereiro 04, 2007

Today's mood =D



"Desconhecer a História é permanecer criança para sempre." Cícero

Porque é que esta frase me irrita tanto?

#!?*%


quarta-feira, janeiro 31, 2007

Tentar

Talvez pensasses que tudo o que fizesses não faria sentido. É bem possível que tenhas razão, mas tentar, tentar é o que nos move. Tentar é a razão, a única razão. Porque o resto é demasiado incerto, o resto perde-se na neblina e o que fica é a tentativa.

Quando o tempo nos deixa a sua marca, e perdemos tudo o que um dia chamámos nosso, o único consolo é ter tentado. O descanso da memória. Porque tentar é despirmos a culpa e sentirmos o prazer da liberdade. Deixarmos sentir o toque tão volátil do vazio, tão penetrante quanto frágil, tão intenso quanto ilusório. Ter tentado é mantermo-nos fiés à nossa essência, é cumprir com o que aspiramos ser, mais do que com o que somos realmente. A tentativa é a nudez menos constrangedora, mais reveladora. Nudez da alma quando já nem o orgulho nos consegue cobrir. É permanecermos puros, procurando o prazer pelos caminhos mais sórdidos, beijando a humilhação que nos fez o que nos tornámos. Nunca somos, tornamo-nos; é essa a premissa.

E eu despi-me perante a tua presença, na tentativa que tudo voltasse a fazer sentido de uma forma mais simples. Como poderia? Nunca fez, nunca deixaste, nunca acreditaste. Mas quando me percorreste o corpo ao som daquela chuva, diz-me, que estavas tu a tentar fazer?

segunda-feira, janeiro 29, 2007

http://festivalmusica.jf-corroios.pt/



quarta-feira, janeiro 17, 2007

Carrossel

E gira tudo cada vez mais depressA


(mas não é demasiado...)

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Não somos iguais a nós mesmos

«Um dos preconceitos mais conhecidos e mais espalhados consiste em crer que cada homem possui como sua propriedade certas qualidades definidas, que há homens bons ou maus, inteligentes ou estúpidos, enérgicos ou apáticos, e assim por diante. Os homens não são feitos assim. Podemos dizer que determinado homem se mostra mais frequentemente bom do que mau, mais frequentemente inteligente do que estúpido, mais frequentemente enérgico do que apático, ou inversamente; mas seria falso afirmar de um homem que é bom ou inteligente, e de outro que é mau ou estúpido. No entanto, é assim que os julgamos. Pois isso é falso. Os homens parecem-se com os rios: todos são feitos dos mesmos elementos, mas ora são estreitos, ora rápidos, ora largos, ora plácidos, claros ou frios, turvos ou tépidos.»


Leon Tolstoi, in 'Ressurreição'