quarta-feira, janeiro 25, 2006

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Arrependimento.

Recordações salpicadas de vermelho, a dor de lembrar, de não poder esquecer. O sentir do pulsar das veias. Dormente.

(Põe a música mais alta, talvez ajude.)

Não. Há outra voz que grita. Pensares que aparecem como flashes. O nervoso e o tremer. O olhar baixo, uns suores ainda. O abanar de cabeça. Porque é que estas imagens não saltam para o esquecimento?
E o som não anestesia. Puxar de cabelos. Arranhar de peles. Sofocos de vozes. Choros contidos.

(Mas, o quê?)

Remorsos. Vidas passadas, vidas futuras, recordações que palpitam, sem nexo sequer. Um nó qualquer na garganta, voltas ao estomago e tudo desde o princípio. Segundos que pesam anos, loucuras da mente, que teima em perder-se por esses lugares desconhecidos.
Arrependimento. O querer voltar atrás. Fazer tudo de novo. Sentir como se fosse a primeira vez. (Porque esta primavera é sempre a mesma e cansa). Olhar tudo como na infância (e ser criança). Sorrir como quem é feliz, chorar como quem desabafa. Retroceder para além de tudo o que já vi. Ser outra qualquer. Remorsos.

(E porquê? Que fizeste tu para te arrependeres tanto?)





Nada.


(E foi mais um daqueles silêncios que nunca nenhuma palavra poderá explicar.)

sábado, janeiro 14, 2006

Eu não acredito em nada, mas, ao menos, sei que isso é real.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

A Ti

(Ela)

Lembras-te quando passeávamos juntos à beira mar? Seguidos de mais algumas dezenas de casais abraçados, outras dezenas vindo na nossa direcção. Lembras-te? Éramos apenas mais uns jovens apaixonados no meio da multidão, tentando parecer únicos no nosso amor, de alguma forma especiais, como se aquele amor nunca fosse acabar e se prolongasse para além da nossa morte. E caminhávamos sem destino, ríamos e brincávamos na nossa infância do amor, sem pensar em mais nada.

Será que ainda te lembras? Chegaste a acreditar quando te disse que te amava? Era verdade. Era tudo verdade, sabes? Não, não menti. Não sei se chegaste a perceber o que te dizia. Nem sei sequer se queria que o percebesses, mas vou tentar dizer-to por palavras escritas, já que dizê-las é muito mais difícil.

Às vezes uma rapariga tem medo. Não sei se alguma vez chegaste a sentir o mesmo, talvez nunca chegaste a gostar de mim o suficiente para o sentir. Mas eu tinha medo. Tanto medo. Eu amava-te e, às vezes, não sabia como o demonstrar, não sabia sequer se o queria demonstrar (na verdade, na altura acho que nem tinha uma ideia clara do que sentia porque, afinal, só damos pela falta das coisas quando é tarde demais, não é?). Mas eu tinha medo. De te perder, de não fazer as coisas certas, de que não gostasses de mim realmente. Eu sei, fui parva. Como pude não ver o brilho que ostentavas quando me vias descer a tua rua naquelas tardes frias de Janeiro? Como pude pensar que era falso o sorriso que emanavas quando íamos, bem devagarinho, para o parque desviando-nos daquelas poças claras, esbatidas pelo Sol? Pois, sabes como eu sou. Nunca fui lá muito segura, e sempre casmurra, a teimar que talvez fosse tudo uma ilusão, tremendo só de pensar na possibilidade de me largares da mão e me deixares ir, assim, sozinha para o parque.

E estraguei tudo. Não corri. Não te agarrei. Não gritei. Não chorei até que a minha alma pudesse escoar-se para alguma dessas poças onde costumavamos espelhar a nossa felicidade. Não. Eu não fiz nada e tu pudeste ir, sem sequer olhar para trás.

Será que não viste, também? Não sentiste como a minha mão tremia, quando a tua se aproximava para a tocar levemente? Não viste? A minha felicidade tão simples quando me ofereceste aquela flor que tinhas arrancado do parque? Ainda lá está, no meio daquele livro que nunca cheguei a acabar de ler. (Também não deixavas, pois não?) E, depois, desmanchaste um botão em flor, espalhaste as pétalas pela brisa que trazia a essência saudosa do mar (eram, talvez, restos de asas de algum anjo que voou alto de mais, perdendo-se no âmago do sonho). Mesmo aí, não viste como era completa quando te comtemplava? Pegavas-me na mão, levavas-me pela alma, e corríamos, rindo, na demência mais feliz dos loucos, por entre as árvores que nos acolhiam. E deitávamo-nos na relva, sonhando com o Sol de Verão, maldizendo tudo o que se relacionasse com aquele Janeiro gelado (quantas vezes não fiquei eu cheia de água de orvalho, que nunca chegava a secar no chão?). E as frieiras, as camisolas de lã, os cascóis que se perdiam sempre, os chapéus-de-chuva que eu nunca usava, as molhas e os risos, as manhãs e o sono, as constipações, o cieiro. Mas tudo fluia na mais perfeita harmonia, aqueles eram os nossos dias e nada os poderia ter tornado melhores. Éramos nós. Se não fosse aquela molha no caminho para casa, como poderíamos ter criado aquelas fantásticas teorias sobre a perspectiva nas gotas de água e os reflexos do ser humano? Não viste que eras tudo? Não viste que eras mesmo a outra metade? Talvez se eu te tivesse dado um daqueles ursos foleiros com um coração a dizer «Preciso de Ti» me tivesses achado mais credível. Mas, que parva, pensei que aqueles momentos valessem por uns 1000 ursos...

Já te lembras?

E será que me consegues perdoar? Assim, só um bocadinho. Perdoar-me por tudo o que fiz, pelo que não fiz e por tudo o resto? Podemos começar tudo de novo. Eu explico-te outra vez como sou complicada, insegura e teimosa e tu ensinas-me outra vez a respirar ok? Porque te amo. Sim, a sério. Podes usar a carta como prova e tudo. E se eu disser que não a escrevi, não ligues. Sabes como sou orgulhosa e como me arrependo facilmente (até daquilo que nunca me deveria arrepender...) Perdoas? Perdoa-me, por favor, porque eu já te perdoei há muito tempo.

(E até esqueço o dia em que te foste embora,
sem sequer olhar uma única vez para trás.)