quarta-feira, dezembro 12, 2007

Dói-me o peito.

Dói-me o peito. Dói-me o peito na tua ausência. Dói-me o peito no simulacro da tua presença. Porque só existes no sorriso estático; o teu olhar fixa-me sem hesitação na imagem do ecrã. E dói.

O vento são lâminas que te cortam a respiração, refugias-te na lã do casaco e das luvas pretas. A neblina percorre-te o corpo e as possibilidades são demasiadas, ilimitadas; uma esquina, uma loja, um banco, um olhar. Quantos metros até ao descanso? Exaustão de formas, exaustão de procuras, olhos cansados. Fadiga. Excesso. Pleonasmo. Círculos imperfeitos na sua origem, quantas demandas, quantos pedidos? Palavras perdidas no horizonte. Será que chegam ao teu? Quantos metros até ti? Quantos passos e quantas esquinas? Perco-te em mais um dia de quase vida. Quantos quase cruzares? Quantos quase encontros? Chove em mim e não sinto a água que escorre dos carros, dos prédios e das árvores. Chove em mim e não sinto sequer o espirro que me foge. Chove em mim e esqueço-me de te procurar. Perco-me.


Golconde, René Magritte




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