Vi-te passar, apressado, sempre sem tempo para algum momento de felicidade nessa tua vida de frenesim. Correste, desapareceste. E que foi feito dos momentos em câmera lenta com alguma música bem lenta de fundo?
Ilusões, ilusões...Mas e o trocar de olhares? Por um instante, voas mais alto, entras dentro da alma, conheces cada recanto, procurando cada alegria passageira, cada ferida, cada cicatriz. Sabes sequer o meu nome? Não, não sabes. Nem nunca vais saber. Já passaste e o instante perfeito desvaneceu-se, perdido, levado para longe por alguma brisa que se levantou quando abriste a porta e saíste, com tanta pressa quanto entraste. Segundos perfeitos e conseguiste ler tudo o que eu tinha a dizer...
Mais vale assim.Mais vale não saberes sequer o meu nome. Porque o resto é mentira. São palavras sem nexo, gestos embaraçados e pensamentos reais. Assim é melhor. O sentimento, a verdade, nenhuma palavra que consiga estragar o instante.
Ilusão na sua forma mais fluida, no seu gesto menos dorido.
Porque me conheceste, e se chegasses a saber o meu nome, nunca me chegarias a conhecer por completo. Deixarias de ler nos meus olhos, e passarias a ouvir o que digo, a reparar nos meus gestos. E seriam tudo mentiras. Porque eu não iria ser eu. Seria eu mais tu. O meu eu acostumado ao teu, calcado no real, transformado, perdida a essência.
Deixa estar assim.Foi um olhar, um instante perfeito que se há-de prolongar para além do tempo, longe do real, de qualquer coisa que possa provocar a desilusão, a dor. E fomos completos, pois. Eu conheci-te totalmente e tu a mim.
Porque conhecer-te é perder-te, que não posso conhecer mais que um reflexo de ser.Porque conhecer-se é nada conhecer, e tudo sentir.Percebes?(Mas não quero que percebas. Sente só. E tudo fica mais belo.)